quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Samba do Monte - 12 Sábados de Responsa


Quem diz que o samba morreu ou é ruim da cabeça ou doente do pé. Digo isso porque, vez por outra, alguém chega com essa conversa de que o samba vai morrer, ou já morreu. Mas basta um passeio rápido por qualquer lugar do Brasil pra ver que isso é balela e das grandes. Posso falar, por exemplo, de Fortaleza, no Ceará. À primeira vista todo mundo pode dizer que não é um dos lugares onde o samba domine, e é até verdade, visto que o mais tradicional por lá são os forrós e os baiões. Mas tem samba de verdade sim. É só procurar o Pagode da Mocinha, na Praia de Iracema, ou o Samba do Zé Bezerra, no Parque Araxá, além da escola de samba Unidos da Cachorra, da rua marechal Deodoro, no Benfica. São pontos de samba “roots” que não deixam a dever pra nenhum sambão de São Paulo ou do Rio, as grandes capitais do ritmo.

E na zona sul de São Paulo, no Jardim Monte Azul, é que tem abrigo uma das rodas de samba mais animadas que já vi. A roda surgiu há exatamente um ano, da iniciativa do produtor Jaime “Diko” Lopes e do sambista Ailton Augusto Vieira, da velha guarda da Tom Maior. Na verdade o samba sempre esteve presente na comunidade Jardim Monte Azul. O que houve foi a organização da roda, em parceria com o Centro Cultural Monte Azul, uma ONG que trabalha, entre outras ações, com a cultura do bairro. E a ONG está plantada bem no meio da comunidade.

A roda acontece todos os segundos domingos do mês, na Associação, e vem atraindo as atenções dos moradores da comunidade e de outras pessoas da capital e de outros estados, devido a divulgação feita e a excelência do trabalho musical realizado. Além disso, e como era de se esperar, a propagação da arte e a convivência propriamente dita com o fazer artístico só contribui para a diminuição das diferenças e o aumento dos níveis de sociabilidade, traduzidos na diminuição da criminalidade e da violência. A música em geral, e o samba em particular, sempre foram agentes de mudança estrutural das condições sociais em todo o Brasil, e não é diferente na comunidade do Jardim Monte Azul.

Nesses dias estão começando as comemorações de um ano de existência do Samba do Monte, e os eventos se estendem por mais de uma semana. No dia 8, quinta, além da roda, será exibido o documentário sobre o sambista Geraldo Filme. No dia 10, sábado, mais um filme será exibido. Dessa vez o documentário sobre a Velha Guarda da Portela, conduzido pela cantora Marisa Monte, intitulado O Mistério do Samba. No domingo, dia 11, é o aniversário oficial, com a apresentação clássica do Samba do Monte. E no dia 18 o samba cruza a cidade e se apresenta na Livraria da Esquina, na Barra Funda.

Isso tudo é pra provar que o túmulo do samba – se é que existe algum – não é, de forma alguma, aqui em Sampa.

Nem na Zona Sul, nem na Zona Norte, nem em lugar algum.

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